Homens Do Café: Franca, 1880-1920


05/11/2019

 Homens do Café: Franca, 1880-1920 resulta de pesquisa desenvolvida no Instituto de Economia da Unicamp por Rogério Naques Faleiros entre 2000 e 2002, período em que cursou o programa de Pós-Graduação em História Econômica em nível de mestrado. 
     O aparecimento da versão publicada pela Holos, Editora (com o apoio da FAPESP) cumpre papel significativo de apresentação do texto ao público e o alargamento do debate que ele suscita no campo da História Econômica, uma vez que o objeto em estudo, a metodologia empregada e os critérios eleitos pelo autor revelam notável esforço de pesquisa e originalidade no que concerne ao tratamento de fontes cartoriais ainda escassamente exploradas pela historiografia do complexo cafeeiro.
     Ao valer-se dessas fontes, o autor lidou com escrituras de contratos de formação e trato de cafeeiros lavradas no município de Franca, que emergia como centro produtor de café no contexto do alargamento da fronteira do cultivo daquela planta.
     O presente trabalho revela detalhes e especificidades da cafeicultura da chamada “Alta-Mogiana”. Ao abordar as escolhas de atores envolvidos com a atividade econômica principal, ele evidencia arranjos entretecidos nos diversos níveis e circuitos pelos quais a acumulação de capitais se efetivava e nos quais os homens do café se caracterizaram enquanto protagonistas de uma determinada formação econômica, sócio-cultural e, no limite, política.
     O trabalho cobre um período em que a cafeicultura descreveu trajetórias de expansão, de crise e de retomada. Nesse período, ocorreu a transição do trabalho escravo para o trabalho livre, intensificando a importância do papel desempenhado pelo crédito no financiamento e na manutenção das unidades produtoras, de modo a garantir a sobrevida da atividade nuclear. A compreensão desse encadeamento é indispensável para o entendimento da modernização ocorrida na região e, para além dela, o estreitamento de sua ligação com o mercado interno e externo.
     Assim, o trabalho ilumina o conjunto da atividade cafeeira numa abordagem localizada, porém seus nexos causais assumem uma perspectiva muito mais ampla, ou seja, a perspectiva de um capitalismo específico, que cumpriu seu desiderato em uma dinâmica agrícola e exportadora que emoldurou e estabeleceu limites e possibilidades à urbanização, à industrialização e ao desenvolvimento experimentado pelo centro sul brasileiro.
     Na medida em que o trabalho permite ao leitor um aprofundamento no entendimento dos condicionantes obtidos pelo estudo da cafeicultura em Franca, ele descortina situações que atuaram como reforço e como variações no âmbito das relações de trabalho estabelecidas entre fazendeiros e trabalhadores rurais na produção e na distribuição da renda gerada.
     O estudo evidencia os mecanismos de extração de excedente que permitiam a continuidade da atividade em momentos distintos, ora como região nova, ora como região velha, transitando do colonato para a simples parceria, de acordo com a idade das lavouras. A sobrevida da cafeicultura esteve diretamente ligada às relações de trabalho aqui capturadas por meio da investigação e análise dos registros cartoriais.
     Não menos importante é o esforço do autor em delimitar o papel desempenhado pela agricultura de alimentos vis a vis a agricultura de exportação, descortinando entre elas seus respectivos instrumentos de exploração num encadeamento que representou a sobrevivência do trabalhador e, ao mesmo tempo, as formas de comercialização do excedente concentradas pelos proprietários contratantes em seus mais diferentes graus de apropriação.
     A agricultura de Franca se apresentava simultaneamente como produtora de cafés finos de exportação e como produtora de gêneros agrícolas para o mercado interno de alimentos. Cláusulas que regiam a forma de plantio e comercialização de milho, arroz e feijão estavam presentes nas escrituras lavradas em cartório e foram analisadas com acuidade pelo autor de modo a permitir o justo entendimento de um erro muito comum em algumas interpretações, de que os colonos seriam livres para comercializar tanto a parcela do café que lhes cabia, quanto os gêneros alimentícios por eles produzidos.
     O texto permite pensar que uma sociedade extremamente hierarquizada sustentava mecanismos de extração de excedente em função da posição e do papel desempenhado pelos contratantes no âmbito da produção e da comercialização e, ainda, definia as condições de acesso ao lucro e ao crédito, impondo obstáculos à mobilidade social.
     Situações particulares de atores específicos garimpados exaustivamente nas demais fontes consultadas aparecem no texto não apenas como recurso expositivo do autor, mas revelam, sobretudo, a oportunidade desses exemplos em função das escolhas teóricas e metodológicas que o objeto analisado exigiu no decurso da pesquisa. Esse confronto documental não se fez por mero recurso expositivo para fazer com que a leitura fosse agradável, mas evidencia o compromisso do autor com a obtenção de aproximações as mais fidedignas possíveis.

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